Resenhas do Lugra: “Metaverso, a promessa de um futuro brilhante”

Lúcio Muratori de A. Graça

Conselheiro de Estratégia - Imagem/Esri

Depois que Mark Zukenberg anunciou, com alarde, o rebranding do Facebook – enquanto empresa – para Meta, o Metaverso virou sinônimo de tudo que é moderno

Me faz pensar na história da Bossa Nova (que é um outro assunto que eu gosto muito). O impacto daquela histórica gravação de “Chega de Saudade” por João Gilberto foi tão marcante, que todos queriam embarcar no sucesso da BN. A mídia de então adorou o rótulo.

O presidente JK foi chamado de presidente bossa nova. Surgiram o carro bossa nova, o apartamento bossa nova, o terno bossa nova. Tudo virou bossa nova no Brasil … Foi como disse o grande Nelsinho Mota: “Em busca da reciclagem tudo que havia de mais velho se dizia bossa nova“.

O Metaverso, para mim, é um pouco isso. Uma evolução da internet e uma promessa de “futuro brilhante.

O certo é que as empresas já começaram a competir entre si de olho num futuro bem diferente do que hoje elas estão preparadas para operar, e reconhecem que se não agirem rápido elas acabarão operando em ambientes projetados por outros e para outros.

As empresas de TI já estão disputando quem vai hospedar, construir e manter o Metaverso das empresas. Um relatório da Accenture, de 2022, aponta que o mercado de transformação digital em nível global deve atingir US$1.25 trilhões em 2026, e isso levando em conta apenas a internet que a gente conhece hoje….

As empresas estão conscientes de que vão ter que operar vários mundos virtuais ancorados ao mundo real. E GIS pela sua capacidade inerente de modelagem da realidade, está bem-posicionado entre as tecnologias que farão esta âncora entre os mundos.

Para isto o conceito de Gêmeo Digital é importante.

A ideia de um gêmeo digital para uma instalação industrial parece simples, mas quando se pensa no Planeta, com todo tipo de variáveis climáticas, políticas, demográficas e comportamentais, a ideia de criar, gerenciar e manter mundos digitais paralelos torna-se bem mais desafiadora. Só que isso não vai impedir que empresas de todos os setores: Utilities, AEC, Agro, Mineração, Meio ambiente e Governo embarquem nesta viagem.

Por isso que o Metaverso, seja lá o que ele vier a se tornar, representa uma grande oportunidade para a nossa Comunidade Geospacial.

Eu não sei se o Metaverso vai ser bem assim como se imagina ou vai transformar-se em algo bem maior. Quando inventaram a internet dizia-se que o grande barato seria poder pesquisar o acervo das grandes bibliotecas e centros de pesquisa do mundo inteiro, em tempo real e sem sair do lugar. E vejam só no que deu. Agregado à outras tecnologias disruptivas que na época eram incipientes, como banda larga e o celular, hoje nada nem ninguém vive sem ela.

O importante é ir se preparando, se inteirando de conceitos e tecnologias disruptivas como a Web3.0, NFTs, AI e ML, pois quando o Metaverso começar a acontecer de verdade, o GIS estará lá pra isso.

A Amazônia

Diante do absurdo que foi o brutal assassinato do indigenista Bruno Pereira e do jornalista inglês Dom Phillips, e da repercussão ainda mais absurda das declarações de pessoas criminalizando a ação dos dois, tratando um indigenista superespecializado como se ele fosse um aventureiro e um experiente jornalista internacional como se ele não tivesse nada a fazer ali naquela região, eu resolvi me posicionar.

E a melhor maneira que encontrei foi produzindo e divulgando nas minhas redes sociais um mapa simples, mas de grande impacto, mostrando que as reservas indígenas freiam a ocupação da Amazônica pelo homem.

Através da sobreposição dos limites das terras indígenas sobre as imagens de satélite fica evidente que se não fossem as reservas indígenas e as unidades de conservação federal e estadual, a maior parte do Pará, Rondônia e MT já estaria toda ocupada e a floresta destruída.

Portanto: Proteger as Terras Indígenas é proteger a Amazônia e vice-versa.

Através da publicação deste mapa eu quis ressaltar o papel que o GIS tem como instrumento de conscientização do que acontece no planeta.

Quis também demonstrar que qualquer um, com algum conhecimento de ArcGIS Online e sabendo acessar as bibliotecas de mapas e dados abertos disponíveis na Esri e na comunidade Geoespacial pode, sim, produzir um mapa como este.

Os limites das Áreas Indígenas eu obtive na INDE através de um serviço WFS do IBGE.

É evidente e vem sendo comprovado pela ciência que o aquecimento global é responsável por eventos climáticos extremos cada vez mais frequentes, como secas, incêndios florestais, temporais, inundações e deslizamento de terra que causam muita destruição, mortes e sofrimento.

A Amazônia tem um papel fundamental no equilíbrio do regime das chuvas no planeta. E devemos defendê-la da destruição da floresta, dos rios e da fauna pela ação ilegal por parte daqueles que são sim os verdadeiros aventureiros.

O Amigo do Gil

A morte de Jô Soares me fez relembrar uma passagem das mais interessantes na minha carreira.

Calma lá! Eu não fui entrevistado pelo Jô…. embora bem que eu gostaria… Mas foi através do “Jô 11 e Meia” que eu vim a conhecer pessoalmente o grande Gil.

Aconteceu em 1991. Eu assistia pela TV o “Jô 11 e meia” quando ele entrevistou Gilberto Gil. Na época, Gil havia sido eleito Vereador em Salvador pelo Partido Verde e era um eloquente porta-voz do movimento pela Ecologia no Brasil.

Na entrevista, Gil questionava e buscava formas para Tecnologia e Ecologia andarem juntas pelo bem da sociedade. Eu que escutava aquilo tudo com muito interesse, tive logo uma sacada: o Geoprocessamento é exatamente isso.

É um bom exemplo de integração de tecnologia com meio ambiente, justamente por essa capacidade de enxergar o planeta com um microscópio invertido, como o diz o Jack Dangermond. Vou explicar: Um microscópio faz você aprofundar a visão ao ponto de enxergarmos a estrutura celular de uma planta. Já o GIS, ao contrário, expande a vossa visão.

Da planta você vê a floresta, da floresta você enxerga o território e com a visão territorial você compreende os fenômenos que ali interagem e se habilita para tomar melhores decisões em prol da sociedade.

Eu fiquei com esta ideia na cabeça, até que bem pouco tempo depois, num belo dia eu embarquei num voo do Rio para Salvador, numa viagem a trabalho, quando por um lance do destino acabei sentando-me na poltrona ao lado do Gilberto Gil.

Após alguns minutos de hesitação, tomei coragem e puxei conversa. Eu precisava dizer para ele que eu tinha visto a entrevista no Jô e que eu tinha um exemplo de integração de tecnologia e ecologia.

Quando eu falei isto de maneira enfática, ele que até aquele momento deveria estar me achando só mais um fã inoportuno, levantou a cabeça, olhou para mim e respondeu com aquele sotaque baiano: ÉÉÉÉ???

Aí eu desandei a falar de Geoprocessamento, e ele, inteligente que só, foi perguntado, comentando, dando ideias; e eu ali acompanhando, bebendo daquela fonte de sabedoria.

Até o pouso foram duas horas de um papo maravilhoso e no final eu deixei um convite para ele nos visitar na sede da IBM no Rio de Janeiro, onde eu trabalhava na época.

Mas não parou por aí, não. Alguns dias depois, sua assessoria entrou em contato comigo para agendarmos a tal reunião. Nesse dia, então, eu fui chamado à recepção principal da empresa para receber e escoltar pelos corredores até a sala de reuniões ninguém menos que Gilberto Gil. Foi aquele fuzuê, e depois disso, eu fiquei conhecido na empresa como “O amigo do Gil“.

Tietagem à parte, esta história só reforça o que eu tenho dito sobre a nossa atividade e que para muitos é uma profissão: Não é difícil chamar a atenção dos clientes, e das pessoas em geral, para as coisas que nós temos a dizer.

Não precisa ser um Gilberto Gil para compreender que a engenharia dos Sistemas de informações Geográficas é diferenciada. Ela é única na capacidade de endereçar soluções aos problemas do Planeta através da combinação de diversas Tecnologias com as Ciências da Terra.

A Originação

Quem aprecia um bom Vinho do Porto talvez não saiba que uma das primeiras iniciativas de denominação de origem de um produto foi na região do vale do Rio Douro, em Portugal, onde este tipo de vinho é produzido.

Já no século XVII, o Vinho do Porto era muito admirado, especialmente na Inglaterra. Na época o país mais poderoso do mundo.

Contudo, a ganância pelos lucros obtidos com as exportações gerou inúmeras situações de fraude. Qualquer vinho era anunciado como Vinho do Porto. Até que em 1756, por pressão dos produtores locais, o governo português interveio, e sob a liderança do Marquês de Pombal a região foi demarcada.

Foi um inglês, de nome Joseph James Forrester, que mais ou menos em 1848 traçou os primeiros mapas detalhados e precisos do Vale do Rio Douro. Por este trabalho, foi-lhe concedido o título de Barão: O Barão de Forrester.

Hoje em dia, o conceito de originação e rastreabilidade de produtos agrícolas é cada vez mais importante.

Os principais países importadores aumentaram as exigências de informações sobre a origem dos produtos, em grande parte devido à pressão dos consumidores cada vez mais conscientes de que aquilo que estão consumindo venham de países e empresas que respeitam os princípios da Sustentabilidade, representada pelo tripé: ambiental, social e governança – o ESG.

Voltando ao Vinho do Porto, se naquela época a Cartografia do Barão de Forrester foi importante no processo de originação, hoje o GIS é tão ou mais importante na rastreabilidade dos produtos, pois atua diretamente no mapeamento, monitoramento e nos diagnósticos socioambientais.

Se naquela época os instrumentos e técnicas do Barão de Forrester se limitavam à teodolitos e à observação do sol e das estrelas, hoje temos dados em abundância, a começar por imagens de satélites de todo tipo: radar, óticos, multi e até hyperpectrais, além de drones e um sem-número de tecnologias de IOT, RFID, e bases de dados históricas e dados em tempo real, para garantir a rastreabilidade e permitir ao comprador de qualquer parte do mundo saber em detalhes como o produto que ele está comprando foi produzido.

Para concluir, dá para dizer que a exigência de certificados de originação e certificação de que os produtos foram produzidos em Compliance com as políticas do ESG serão cada vez mais utilizados como instrumentos a favor da Democracia, mostrando que Economia, Meio-Ambiente, Política e Tecnologia estão intrinsicamente ligados.

Em breve teremos mais “Resenhas do Lugra”, essa história sensacional de um dos especialistas da Imagem!

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Resenhas do Lugra: “A evolução do Mapeamento”

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Gostei muito de ler seu artigo, Lúcio!

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