ArcGIS como sistema de análise contextual e espacial para apoiar o policiamento ostensivo

Por que um mapa de calor não é suficiente para combater o crime?
Pessoa sorridente usando óculos e blazer, com fundo azul suave.

Magno Naoli Santos Miranda

Arquiteto de Negócios - Imagem Geosistemas

Nos últimos anos, o uso de mapas de calor se popularizou entre analistas e gestores da segurança pública como uma forma rápida de visualizar onde os crimes estão ocorrendo.

No entanto, apesar de sua aparência intuitiva, esses mapas muitas vezes falham em fornecer a profundidade necessária para ações operacionais e decisões estratégicas eficazes.

Isso ocorre porque o mapa de calor tradicional, baseado na densidade de pontos, não diferencia o tipo de crime, não considera o fator tempo e pode distorcer a realidade ao suavizar áreas críticas.

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Um ponto de furto ocorrido meses atrás tem o mesmo peso visual que um homicídio ocorrido ontem, comprometendo a análise situacional.

Além disso, a representação gráfica, ao aplicar um degradê de cores sobre a malha urbana, pode sugerir concentração onde, na verdade, existe apenas sobreposição visual.

Diante desse cenário, é essencial adotar ferramentas analíticas mais robustas, que combinem inteligência espacial e estatística para qualificar a análise criminal.

Abaixo, apresentamos um conjunto de métodos disponíveis no ArcGIS Crime Analyst que, integrados ao ArcGIS Pro, permitem ir muito além da visualização básica — eles transformam dados em ação policial inteligente.

Conheça a seguir as ferramentas e análises que podem apoiar na definição de melhores planejamentos para suas rotas.

Esta demonstração foi criada utilizando dados de roubo da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo de 2023.

1. Importação dos dados – Integração com sistemas de B.O. ou dados de outras fontes

A base de toda análise são seus dados e sua qualidade.

Para iniciar esta análise, foram baixados os dados do portal aberto da SESP/SP, adquiridos em formato Microsoft Excel.

Um dos desafios existentes é a obtenção de coordenadas.

Em algumas situações, seus dados podem estar com a latitude e longitude comprometidas, mas, com o ArcGIS para Excel, é possível realizar o processo de geocodificação reversa diretamente na planilha.

Com a função =arcgis.getcoordinates(), é possível, a partir de um endereço, adquirir sua coordenada e gerar um ponto no mapa no próprio Excel.

É possível exportar o resultado para uma camada ou compartilhar com toda a organização.

Tela dividida entre uma planilha de Excel com endereços georreferenciados e um mapa integrado do ArcGIS for Excel exibindo os dados mapeados com pontos verdes sobre a cidade de São Paulo.
Figura 1. ArcGIS para Excel
Mapa exibindo pontos de incidentes georreferenciados importados no ArcGIS Pro, com destaque para aglomerações em áreas centrais e zonas de ocorrência periférica.
Figura 2. Dados importados no ArcGIS Pro

2. Análise 80/20 – Foco nos principais vetores do crimeInspirada no Princípio de Pareto, essa análise identifica os 20% de áreas, horários ou agentes que concentram 80% das ocorrências.

Em vez de dispersar recursos, permite priorizar ações onde elas trarão maior impacto.

Por exemplo, um município pode identificar que apenas três bairros concentram a maioria dos roubos noturnos, orientando o reforço policial nesses setores.

No nosso caso, usamos a ferramenta com a referência dos bairros de São Paulo e temos como resultado uma distribuição da relação dos bairros que mais sofrem com o crime de roubos.

Mapa temático no ArcGIS Pro baseado na regra de Pareto (80/20), exibindo polígonos que concentram a maior parte das ocorrências com foco em ações estratégicas.
Figura 3. Análise 80/20

O resultado aponta os bairros com maiores quantidades de crimes, além de detalhar na tabela de atributos a porcentagem cumulativa de cada bairro até 100%.

3. Recorte de áreas críticas – Recorte espacial inteligente

Ao aplicar filtros espaciais e atributos como tipo de crime e período, o analista delimita zonas de interesse com base em evidências.

Esse processo transforma a leitura de um mapa em um perímetro operacional real, que pode ser usado para operações de campo, criação de relatórios ou instalação de infraestrutura urbana preventiva, como câmeras e iluminação.

Para essa análise, usamos as ferramentas do ArcGIS para filtrar apenas os roubos nos cinco polígonos com mais crimes.

Antes de filtrar os dados por bairro, realizamos análises Hotspot e comparamos com os mapas de calor comumente utilizados.

4. Mapa de Hotspots (Getis-Ord Gi) – A estatística como aliada

Diferente dos mapas de calor, a análise de hotspots usa métodos estatísticos para detectar clusters significativos, onde a concentração de crimes não ocorre por acaso.

Essa abordagem fornece maior confiabilidade, considerando a variação espacial de forma objetiva.

Seu resultado: mapas que destacam áreas com risco real, filtrando o “ruído” de eventos isolados.

Visualização com mapa de calor clássico exibindo gradiente suave de densidade criminal em uma área urbana, sem distinção por tempo ou tipo de ocorrência.
Figura 4. Mapa de Calor Tradicional
Mapa de calor com foco em hotspots otimizados por nível de confiança estatística, indicando zonas críticas em vermelho intenso e regiões estáveis em azul.
Figura 5. Hotspot Otimizados

Percebemos a drástica diferença entre o mapa de calor e a análise Hotspot.

A análise de hotspots otimizada elimina ruídos, apoiando-se em pontos espacialmente significativos, indo além de uma contagem de pontos.

Além disso, seu resultado não é uma simbologia que se adapta conforme a escala; ela representa uma análise em uma área determinada.

5. Hotspots emergentes – Tendências que precisam de resposta rápida

A análise de pontos emergentes incorpora a dimensão temporal, identificando áreas onde os crimes estão crescendo recentemente.

Isso é crucial para ações preventivas.

Por exemplo, uma praça que nunca teve registros passa a ter furtos recorrentes nas últimas semanas — com essa informação, é possível intervir antes que o padrão se consolide.

Análise de hotspots emergentes no ArcGIS Pro, com quadrantes coloridos destacando áreas com aumento recente de incidentes. Mapa evidencia variações espaciais e temporais.
Figura 6. Hotspots Emergentes

A análise de hotspots emergentes classifica os hotspots e coldspots quanto à sua recorrência no espaço e tempo, sendo assim uma análise de tendência.

Segue abaixo uma tabela que classifica os tipos de hotspot e seu significado:

tabela que classifica os tipos de hotspot e seu significado

Agora refazemos essas análises, diminuindo a escala para as áreas escolhidas.

Apesar de o crime não ter fronteiras, somos organizados por elas; as equipes se distribuem em zonas e conhecer o território em diferentes escalas enriquece nossa análise.

Mapa no ArcGIS Pro com análise microespacial de incidentes, representando padrões de concentração de dados criminais em área urbana com símbolos em gradiente de cor.
Figura 7. Análise Micro

6. Pontos de Interesse (POIs) – O contexto que explica o crime

Incluir locais como escolas, bancos, bares, terminais e postos de saúde enriquece a compreensão do território.

Muitas vezes, o crime se relaciona com o entorno: um terminal de ônibus pode concentrar furtos em horários de pico.

Ao cruzar dados criminais com esses pontos, ampliamos a análise do “onde” para o “porquê”.

O ArcGIS conta com camadas da FourSquare, uma empresa privada que atualiza pontos de interesse no Brasil e em outros lugares do mundo.

Uma base comunitária bem conhecida é a Open Street Maps.

Mapa no ArcGIS Pro exibindo pontos de interesse provenientes da base de dados da Foursquare, com ícones representando estabelecimentos e serviços urbanos variados.
Figura 8. ArcGIS com camadas da FourSquare

Com esses dados, podemos fazer análises de proximidade e entender quais os pontos de interesse mais próximos dos roubos nas áreas analisadas.

De forma geral, percebemos que restaurantes, bares e boates são as localidades mais próximas aos roubos.

Mapa do ArcGIS Pro com diversos ícones categorizados (como escola, restaurante, hospital, polícia) relacionados aos pontos de interesse associados a boletins de ocorrência.
Figura 9. Pontos de Interesse relacionados com Boletins de ocorrência

O ArcGIS ainda permite manipular esses dados de diversas formas.

Por exemplo, ao apontar a data das ocorrências, podemos visualizar como os roubos são dispersos nos dias do mês.

Se tivermos os horários, podemos ver como isso se distribui em dias da semana por hora.

Interface do ArcGIS Pro com heatmap de ocorrências de boletins por dia e mês, acompanhado de mapa com ícones variados representando tipos de locais de interesse.
Figura 10. Interface do ArcGIS Pro com heatmap de ocorrências de boletins por dia e mês

7. Camadas de ruas – A estrutura da cidade como componente analítico

Importar a malha viária permite avaliar acessos, fugas e tempo de resposta.

Ruas sem saída, vias arteriais e corredores de transporte impactam diretamente na dinâmica do crime e na logística de policiamento.

Com base nessa estrutura, análises mais realistas podem ser feitas para planejar abordagens, barreiras e coberturas.

Adicionamos a camada de ruas da base Open Street Maps.

Mapa vetorial detalhado com rede viária densa da cidade de São Paulo, utilizando dados do OpenStreetMap no ArcGIS Pro.
Figura 11. Ruas de São Paulo OSM

Ao cruzar essa informação com nosso mapa de hotspot, sabemos quais trechos de ruas estão em zonas de hotspot intensificado, por exemplo.

É possível ainda trazer dados de trânsito em tempo real para a camada.

Camada de tráfego aplicada no ArcGIS Pro, com vias coloridas em verde, amarelo e vermelho indicando níveis de fluidez e congestionamento no trânsito de uma grande cidade.
Figura 12. World Traffic Service

8. Análise de repetição – Padrões que se repetem exigem atenção

Locais onde o crime se repete indicam falhas de vigilância ou vulnerabilidades não tratadas.

Essa análise ajuda a identificar padrões espaço-temporais, como um mesmo quarteirão sendo alvo em dias e horários semelhantes.

Isso permite o uso de estratégias como rondas dirigidas, videomonitoramento ou operações disfarçadas.

Essa análise identifica padrões de repetição de um evento, baseado em um raio e intervalo de tempo de uma ocorrência.

Mapa do ArcGIS Pro com diversos pontos coloridos identificando eventos repetitivos de criminalidade em uma área urbana, organizados por tipo de ocorrência.
Figura 13. Análise de Repetição

A análise separa pontos que se relacionam: os vermelhos são os “originadores” do crime (primeira ocorrência); os laranjas e amarelos são crimes que se repetem nas proximidades e no intervalo de tempo determinado, configurando alguns clusters pelo mapa.

Os demais pontos não têm um padrão determinado.

9. Análise preditiva – A ciência por trás da prevenção

Modelos preditivos permitem estimar onde o próximo crime pode ocorrer com base em dados anteriores, sazonalidade e padrões. Isso transforma a segurança pública de reativa para proativa, possibilitando a antecipação de delitos e o planejamento de ações em datas ou locais com maior risco.

O ArcGIS conta com ferramentas para realizar predição, como a “Prediction Zones”, que, com base em um intervalo de tempo e localização, estima zonas onde esses eventos podem ocorrer nos próximos dias.

Mapa com pontos circulares representando zonas de predição de ocorrências, com destaque para áreas de concentração em uma região urbana. Interface do ArcGIS Pro visível.
Figura 14 Prediction Zones

É importante deixar claro que o ArcGIS não é uma caixa-preta; pelo contrário, vários parâmetros podem ser configurados, possibilitando o refinamento das ferramentas mais próximo da sua realidade.

10. Planejamento de rotas de policiamento – Otimização da presença policial

Com base nos dados das análises anteriores, o ArcGIS permite traçar rotas de policiamento inteligentes, que maximizam a cobertura em áreas críticas, reduzem tempos de resposta e evitam sobreposição de recursos.

O resultado: mais segurança com o mesmo efetivo, mais presença onde é mais necessário.

Por fim, o ArcGIS conta também com ferramentas para criar rotas.

Utilizamos as ferramentas de logística, com as paradas nos pontos de interesse.

Tela do ArcGIS Pro com análise de roteamento de veículos (VRP), exibindo dois percursos otimizados em azul e verde sobre mapa urbano, com pontos de parada numerados.
Figura 15: ArcGIS Network Analysis VRP

Temos as informações de duração das rotas no bairro Pari, quantidade de paradas e podemos criar um cronograma, configurando rotas para vários dias da semana, por exemplo.

11. Compartilhamento estratégico – Do analista à viatura

Todas essas análises podem ser integradas em mapas interativos, dashboards e aplicativos móveis.

Isso garante que a informação chegue aos decisores e às equipes de campo, facilitando a coordenação, a resposta e o monitoramento de resultados.

Painel de dashboard com mapa de calor mostrando concentração de roubos em uma área urbana. Gráficos ao lado indicam frequência de incidentes por período do dia e por dia do mês, além de contagem total de roubos com destaque para o número 7.5k.
Figura 16. Painel para compartilhamento da informação de roubos.

A inteligência geográfica como ferramenta essencial para a segurança pública

A realidade urbana exige respostas rápidas, baseadas em dados confiáveis.

Superar o uso superficial de mapas de calor é uma etapa crítica para implementar uma segurança pública orientada por evidências.

Com as ferramentas do ArcGIS Crime Analyst, é possível construir um ciclo completo de análise, ação e avaliação — transformando dados brutos em estratégias operacionais de alto impacto.

Obrigado pela atenção!

Sobre o autor

Magno Miranda trabalha com arquitetura de negócios, visualizando, desenvolvendo e criando soluções para problemas de Governos Municipais e Estaduais com as ferramentas Esri e serviços da Imagem Geosistemas.

 

 

 

 

 

 

 

 

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Uauuuu, parabéns pelo empreendimento, em 2013 criei um SIG na Guarda Municipal de Paulínia utilizando software Gis e deu super certo, forte abraço.

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