Essa é visão de Jack Dangermond (Fundador e Presidente da Esri), que construiu uma empresa voltada para as pessoas, uma empresa feita para ser orientada a objetivos claros que proporcionou uma tecnologia que conecta o mundo.
A Esri User Conference de 2019 vai permanecer como um grande destaque na minha vida.
Foi a primeira vez que compareci todos os dias e aproveitei tudo o que tinham a oferecer. Admito, no entanto, que fiquei exausto na tarde de quinta-feira e acabei faltando à festa do Balboa Park. Este ano foi diferente para mim. Participei como colaborador de imprensa para o “The Geo Cloud”, o que me permitiu aproveitar a conferência sob uma perspectiva diferente.
Não passei pela experiência como estudante ou empresário, mas como um observador que conseguiu enxergar o quadro geral sem ser engolido por todas as aulas, demonstrações, feiras e atividades que tomaram conta de San Diego.
Aproximadamente 20 mil participantes, vindos de toda parte, representavam diversas organizações de municípios, empresas de serviços públicos e até estados soberanos que têm foco na localização. Além disso, havia mais de 1.000 horas de aula, 770 horas de treinamento e mais de 300 expositores no salão de exposições.
A Esri User Conference cresceu bastante desde o primeiro encontro, que contara com dez participantes. O que vi e vivenciei foi um ambiente de colaboração, aprendizado e inspiração.
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Mudanças significativas estão acontecendo no mundo, e a Esri criou uma metáfora simples para descrevê-lo: estamos nos movendo em direção a uma realidade em que os cenários digital, ambiental, econômico e humano estão interconectados, como a natureza reativa do sistema nervoso que todos temos.
O sistema nervoso é uma das partes mais importantes de um organismo. Ele pode detectar mudanças (internas e externas), analisar essas mudanças e agir de diversas maneiras. Como seres humanos, dependemos desse sistema para quase tudo o que fazemos.
Ele nos fornece informações essenciais para reagirmos a mudanças em nosso ambiente e, em muitas situações, é fundamental à nossa sobrevivência. Com os desafios existenciais que enfrentamos, como a mudança climática, a superpopulação e a perda da biodiversidade, esse sistema nervoso inteligente será um dos movimentos mais importantes do nosso tempo.
Eu digo movimento porque não se trata apenas de tecnologia. O sistema nervoso inteligente emergiu de uma comunidade global colaborativa de pessoas, de grandes quantidades de dados compartilhados publicamente, da mudança de aplicativos para a nuvem e da ciência geográfica que reúne tudo isso.
Consegui um lugar ao lado de Jack Dangermond, o visionário por trás da Esri. O que mais se destacou não foi o seu sucesso nos negócios ou mesmo a sua inteligência, mas sua humildade, paixão em servir ao próximo e fazer a diferença no mundo.
Muito receptivo, é daqueles indivíduos com quem podemos conversar até altas horas sobre como as pessoas farão uso da ciência e da tecnologia para tornar o mundo melhor. Durante a entrevista, só consegui fazer duas perguntas que se revelaram mais que suficientes.
Ele levou algum tempo para compreender o que eu havia perguntado, refletiu sobre o que realmente importava e comunicou suas ideias com extremo cuidado.
Perguntei como ele imaginava que seria esse sistema nervoso inteligente daqui a cinquenta anos e o que isso significaria para o homem comum.
Fiz, ainda, uma pergunta mais aberta: “o que o surpreendeu em sua trajetória até o momento; algo que aprendeu, construiu, vivenciou, viu ou pensou a respeito?”
Embora não sejam óbvias a princípio, as duas perguntas se conectam e as possibilidades que vislumbramos decorreram das primeiras decisões tomadas por Jack e sua esposa, Laura.
O sistema nervoso inteligente e o que isso significa para nós
Tudo tem um lugar e um espaço, e podemos usar esse conceito simples, mas poderoso, para analisar tudo em relação a todo o resto. “O conhecimento do mundo se tornará cada vez mais definido de modo geoespacial”, prenunciou Jack.
Em outras palavras, poderemos coletar mais dados baseados em localização a respeito do mundo para conseguirmos tomar melhores decisões e agir. Isso se aplica a coisas díspares como resposta a desastres naturais, identificação de locais desconhecidos onde vivem espécies ameaçadas e análise da propagação de doenças em uma cidade.
Jack recordou o lançamento do primeiro smartphone: “Quando apresentou o iPhone no palco, Steve Jobs deveria ter mencionado que a Biblioteca do Congresso estava agora ao alcance de nossos dedos”.
Não se tratava do dispositivo, mas do conhecimento que se tornara acessível de qualquer lugar, a qualquer momento.
A Esri se resume na construção de ferramentas que coletam, analisam, criam e compartilham conhecimento com os outros. “Estamos lançando luz na escuridão, tornando o invisível visível”, disse. Um exemplo é o geo-news que comunica eventos importantes como furacões e incêndios.
Quando esses desastres acontecem, as pessoas usam seus smartphones para obter informações sobre o que está acontecendo e tomar melhores decisões sobre o que fazer. Essas mesmas pessoas, em seguida, contribuem com seus próprios dados publicados em mídias sociais e outros canais públicos. Esses dados de origem coletiva estão começando a retornar aos sistemas de dados tradicionais para fornecer uma melhor compreensão das condições locais.
O que isso significa? Isso significa que, ao ser apresentada a um indivíduo, a imagem completa de algo pode mudar seu comportamento com base nessas novas informações. Jack se perguntou por que não usar esse recurso com outros problemas prementes, como a falta de moradia e a perda de biodiversidade.
Ele nutre esperanças de que finalmente chegaremos lá se pudermos democratizar o acesso ao conhecimento com o auxílio de mapas. O sistema nervoso inteligente é fundamental para alcançarmos esse objetivo.
“Precisamos mudar nossa maneira de pensar. Os humanos são engenhosos e precisamos ter temperança para agir. Se quisermos resolver os problemas graves que enfrentamos, uma mudança de pensamento precisará ocorrer. Nem todo mundo vai mudar diante das provas, mas, se conseguirmos que um número suficiente de pessoas enxergue a verdade, as coisas mudarão.”
– disse Jack Dargermond.
Como o sistema nervoso inteligente fornece conhecimento às pessoas que possibilitarão essa mudança de pensamento?
Mapas narrativos são um bom exemplo. Eles apresentam informações de uma maneira fácil de entender. Os dados espaciais são integrados a mapas, textos e outras mídias visuais e apresentados ao usuário de forma orientada. Estudos mostram que, por transmitirem conhecimento melhor do que gráficos e figuras, as histórias constituem uma forma natural de informar alguém a respeito de algo novo.
Vi outro exemplo desse compartilhamento de conhecimento sob a forma de uma empresa. Encontrei, na área de startups, a 2NDNATURE, uma empresa feminina liderada por cientistas. Ela facilita a coleta de dados sobre a qualidade da água durante inspeções de campo, por meio de um aplicativo intuitivo, que permite às partes interessadas a tomada de decisões com base em dados sobre ações capazes de reduzir a poluição em córregos, rios e lagos.
A iniciativa dá um passo à frente e ajuda as pessoas a se envolverem com o mundo ao seu redor. Os dados coletados são analisados e disponibilizados através de um painel público, onde os moradores podem ver em que condições estão seus sistemas hídricos.
Quando vemos de que modo nossas ações, ou as de nossos vizinhos, afetam o local em que moramos, tudo, de repente, torna-se mais real. Em vez de tentar entender um problema global abstrato, as pessoas podem se concentrar no que está diante delas e, consequentemente, se sentirem capacitadas a agir.
Esse é o poder do sistema nervoso inteligente: coletar, analisar, decidir e se comunicar em escalas antes impossíveis.
O que ajudou a 2NDNATURE a atingir o seu objetivo de mobilizar as cidades e suas comunidades em prol do meio ambiente?
Jack mencionou que a chave para possibilitar essa transformação em torno do local foi a abertura e a expansão da plataforma ArcGIS aos desenvolvedores. Isso vira o jogo. A inovação está se aproximando da velocidade da imaginação e Jack aceitou o fato.
“Cabe à imaginação das pessoas” criar as soluções do futuro. Como não conseguiria criar todas as ferramentas de que precisamos para enfrentar todos os problemas críticos, a Esri nos permite aplicar nosso conhecimento e experiência exclusivos para que isso aconteça. A Esri obteve grande sucesso com essa estratégia, o que se reflete nas finanças da empresa.
A Esri é uma empresa impressionante de US$ 1 bilhão (Jack arredondou o valor de US$ 1,1 bilhão), que permite a seus 2.500 parceiros auferirem uma receita US$ 21 bilhões. O sistema nervoso inteligente seguirá impulsionando a inovação, a colaboração, as oportunidades e as iniciativas em todo o mundo de maneiras com as quais ainda não sonhamos. O impacto mais significativo dessa tecnologia integrativa é o de criar e compartilhar o conhecimento que deslocará o homem comum da escuridão para a luz.
Uma jornada difícil, mas compensadora
Perguntei a Jack se houve algo inesperado em sua trajetória, algo de impacto em sua opinião. De imediato, ele me perguntou se me referia à sua trajetória de vida ou a dos negócios. Não me ocorrera que esses caminhos pudessem estar entrelaçados, mas que cada um fosse diferente em termos dos desafios e obstáculos que devemos superar. Eu queria ouvir os dois, mas o tempo era curto, então me mantive na Esri.
Ele revelou que foi uma surpresa construir uma empresa totalmente focada nos usuários para, em seguida, imaginar que talvez não fosse esse o caso. Se você está se perguntando o porquê dessa resposta, deixe-me esclarecer. “No processo de servir ao próximo, estamos lidando com os desafios do nosso tempo”, explicou. Jack repetiu o conceito algumas vezes para se certificar de que eu entenderia. Esse é o princípio básico que permeia o tecido da Esri e de todos os que trabalham na empresa. A Esri permite às pessoas melhorarem suas comunidades através da tecnologia, da ciência e da educação.
De que modo Jack concentrou-se nos usuários?
Foi decidido, desde o início, que a Esri seria uma empresa orientada a objetivos, o que significava fazer o bem servindo ao próximo. Essa abordagem traçou o difícil caminho que seria necessário percorrer a fim de garantir às pessoas prioridade em relação aos lucros.
Embora a cultura de startups e os recursos disponíveis de hoje não existissem na época, Jack resistiu em permitir a entrada de investidores externos. O modelo padrão que conhecemos é o de ganhar dinheiro de quem o possui, e, em seguida, tentar aumentar a escala do negócio e “ter sucesso”.
Ele comparou o esquema ao investimento em um 401K (plano de aposentadoria patrocinado pelo empregador). Ao permitir que terceiros controlem nossos investimentos, também queremos que eles tomem decisões sobre o que é melhor para nós, e não sobre o que dará mais lucro.
No contexto da Esri, seguir esse caminho inviabilizaria o princípio básico de servir ao próximo. Se o foco da empresa fosse o lucro, duvido que seria possível o investimento de um terço de sua receita anual em P&D (Pesquisa e Desenvolvimento), a publicação frequente de livros originais de autoria de cientistas ou a doação de softwares para instituições educacionais.
Com frequência, ouvimos empresas e startups discursarem sobre seus valores, mas raramente você as vê concretizarem os que fundamentam a empresa. Jack reconheceu que a Esri tem gerado muito lucro ao longo dos anos, um feito atingido com a formação de excelentes equipes de marketing e vendas.
A empresa teve que agir assim. Atuamos em um sistema capitalista e, se quisermos nos manter no páreo, precisaremos gerar receita e competir com os demais. Ter uma empresa que gera lucro permitiu que Jack pudesse fazer o bem ao próximo, como a reserva de 24.000 acres que ele criou no condado de Santa Bárbara.
Voltando ao P&D, a empresa investe nessa área cerca de três vezes mais do que outras empresas. A Esri não faz uso de um discurso apenas para impressionar. Ela o põe em prática.
Ser diferente é muito, muito difícil. Quando você financia a si próprio, precisa administrar dois negócios ao mesmo tempo. Uma parte da empresa, a prestação de serviços profissionais no caso da Esri, gerou receita para a parte dedicada ao produto. Essa dinâmica traduz-se em um crescimento gradual mais lento na parte dedicada ao produto e seu gerenciamento exigiu cuidados. É certo que houve muitas situações estressantes, madrugadas em claro e tempo perdido seguindo na direção errada.
Jack provou que somos capazes, passando a falar sobre a próxima geração. “Os jovens podem fazer ótimos negócios sem o levantamento de capital. Mas é difícil, muito difícil”. Concordei e disse a ele que precisamos mudar para um modelo de “pós-startup”, já que o sistema atual transformou-se em pessoas com dinheiro que fazem com que outras pessoas trabalhem exaustivamente em troca de baixos salários.
Jack acrescentou: “a cultura de start-ups rouba a dignidade das pessoas e lhes priva do idealismo”. Muitas startups fazem o bem para o mundo, mas acho que a cultura precisa ser melhorada e, na verdade, trabalhar em prol desse equilíbrio entre vida e trabalho do qual todos ouvimos falar.
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O que o mundo mais precisa agora são de pessoas motivadas, com um propósito em suas vidas, e que tenham capacidade não apenas de sobreviver, mas de prosperar. Todos precisam colaborar e contribuir com seu potencial criativo, visando solucionar a mudança climática, a superpopulação e a perda de biodiversidade.
Para alguém que trabalha 12 horas por dia, preocupado em como pagar o aluguel, fica difícil se concentrar nos desafios futuros. Acredito que somos capazes de fazer o que Jack fez. A Esri é a prova de que podemos construir uma empresa de bilhões de dólares sem vender e sacrificar nossos valores e crenças fundamentais.
A prova disso está no sucesso e no alcance global da empresa, que conta com um grupo de clientes dedicados, que usa diariamente os seus produtos. Devemos nos esforçar para liderarmos com nossos propósitos e crenças, não com as ideias ou coisas que estamos construindo.
Visão holística
Jack usou o pensamento sistêmico como base para a criação da Esri, adotando uma abordagem holística na construção da empresa. Tudo está conectado. Não podemos, portanto, nos concentrar em um único aspecto de um sistema complexo, como o de uma empresa, e esperar que façamos o bem para as pessoas. Tudo começa com a educação, preparando a próxima geração para entender nosso planeta conectado e capacitá-la para a resolução de problemas difíceis.
A construção de ferramentas e, em seguida, o treinamento de pessoas no uso dessas ferramentas, visando capacitá-las para o enfrentamento de problemas em suas comunidades. A colaboração multidisciplinar com cientistas para a obtenção de informações para o negócio. A liderança pelo exemplo, preservando a biodiversidade através de iniciativas voltadas à conservação. O estabelecimento de uma cultura orientada a objetivos, baseada em princípios éticos, para fazer tudo acontecer.
Jack teria sido capaz de construir uma empresa que faz tudo isso se não pudesse se concentrar em pessoas em vez de lucros? Improvável.
Mais uma vez, nas palavras simples de Jack: “No processo de servir ao próximo, estamos ajudando a lidar com os desafios de nosso tempo”.
O sistema nervoso inteligente transformará o nosso mundo e, em seu núcleo, está o atendimento ao próximo.
Durante a conferência, todos nós debatemos e ouvimos muito a respeito dos problemas e ameaças que nosso planeta enfrenta. Mas, também houve o compartilhamento de inspirações, esperança e bondade de todo o mundo durante aquela semana em San Diego. Pessoas inteligentes e motivadas empenham-se em melhorar as coisas.
Quando perguntei a Jack como estaria o cenário em cinquenta anos, ele exclamou: “É difícil fazer previsões para além de três anos!”.
O que ele poderia ter dito, sem dúvida, é que os usuários da Esri foram capazes de realizar coisas incríveis nos últimos cinquenta anos e que ele espera o mesmo para os próximos cinquenta.
Após a entrevista, fiquei convicto de que podemos mudar o rumo dos acontecimentos. Acredito que podemos mudar o mundo a serviço do próximo. Podemos construir coisas grandes sem sacrificar nossos princípios e valores.
Aprendi que, se colocarmos o propósito no centro de tudo o que fizermos, ninguém poderá competir conosco. Vamos voltar à pergunta original sobre algo inesperado na trajetória de Jack. Nos negócios, nunca sabemos se seremos ou não bem-sucedidos, e acho que esse fato foi surpreendente para ele. O que não o surpreendeu, no entanto, foi criar uma empresa voltada às pessoas e que fizesse a diferença.
Ele não poderia, e não iria, construí-la de forma diferente.
Obrigado, Jack, por contribuir com esse movimento e capacitar outras pessoas a tornar sua parte do planeta melhor do que era. Estou ansioso para fazer parte dessa crescente comunidade global e enfrentar os desafios do nosso tempo.
Vou dar tudo de mim para que as coisas mudem para melhor. E ao leitor eu pergunto: você vai?
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