O trabalho de Aaron Koelker, “Map Turtles Mapped” — em tradução livre, “Mapa das Tartarugas-Mapa” — é um excelente exemplo de como o formato e a própria temática podem influenciar um projeto cartográfico.
Para entender como surgiu esse trocadilho criativo, conversamos com Koelker, que integra a equipe de Serviços Geoespaciais do Escritório de Serviços de Tecnologia da Informação do estado de Nova York, para descobrir como ele transformou uma simples ideia em uma experiência visual memorável.
O que o inspirou a criar esse mapa tão original?
Koelker: A ideia de criar um mapa sobre as map turtles (tartarugas-mapa) surgiu anos atrás, durante minha visita ao Flint RiverQuarium, em Albany, na Geórgia. Lá, vi a Barbour’s Map Turtle (tartaruga-mapa-de-Barbour) em exibição, com informações sobre sua área de distribuição e vulnerabilidade.
Foi impossível não notar que se tratava de uma “tartaruga-mapa” — ela realmente lembra traços de um mapa — e que “mapa” está presente tanto em seu nome comum quanto no nome científico.
Como cartógrafo e fã de trocadilhos, vi na hora um potencial criativo.
Só que a ideia só tomou forma de fato anos depois, quando li sobre a lenda da World Turtle (“Tartaruga-Mundo”) e a expressão “turtles all the way down” (“tartarugas até onde a vista alcança”).
Percebi que podia reunir tudo num trocadilho visual: uma tartaruga sustentando o(s) mundo(s), com hexágonos dentro de hexágonos, reforçando a ideia de “tartarugas em sequência”.
Esperava que esse layout divertido atraísse o público por tempo suficiente para que aprendesse um pouco sobre as tartarugas-mapa.
Como foi o processo de construção do mapa? Alguma técnica ou ferramenta de destaque?
Koelker: Usei, principalmente, o ArcGIS Pro e o Inkscape (software livre de gráficos vetoriais, similar ao Adobe Illustrator).
Criei os mapas menores (os “small multiples”) no ArcGIS Pro, enquanto toda a parte artística da tartaruga e o texto ficaram por conta do Inkscape.
Os dados de distribuição (onde cada tartaruga-mapa ocorre) foram feitos “na unha”: não havia um conjunto confiável de informações digitais para cada espécie.
Por sorte, encontrei um livro (também disponível como PDF gratuito) produzido pelo IUCN Turtle Taxonomy Working Group, que trazia mapas com a localização de várias espécies.
Aí foi questão de georreferenciar essas imagens no ArcGIS Pro, desenhar manualmente as áreas dentro de uma malha de hexágonos e montar tudo com as ferramentas de layout.
Para os contornos externos (como casco e crânios), desenhei ponto a ponto, e usei técnicas de filtragem de imagem (High Pass, Threshold, Gaussian Blur etc.) para criar a textura de fundo no estilo “Turing”.
Encontrou algum obstáculo inesperado no caminho?
Koelker: O primeiro grande desafio foi descobrir quantas espécies de tartaruga-mapa existiam.
Parecia algo simples, mas encontrei muita contradição entre artigos, e-books e outros materiais.
Em alguns lugares, surgiam nomes diferentes para a mesma espécie; em outros, certas variedades eram consideradas subespécies.
Até a Wikipedia tinha informações conflitantes, embora eu tenha descoberto depois que ela listava corretamente quatorze espécies.
A salvação veio de um livro específico sobre as tartarugas-mapa, encontrado numa biblioteca local e que sequer estava disponível em versão digital.
Acho que fui o primeiro a retirá-lo de lá! Então, por mais que exista muita informação on-line, ainda vale a pena revirar bibliotecas em busca de raridades.
Se pudesse refazer este mapa, o que mudaria?
Koelker: Considero este projeto um ótimo experimento e adoro o resultado, mas admito que a leitura do mapa se torna complicada em alguns pontos.
Em retrospecto, a estética acabou falando mais alto que a funcionalidade.
Se refizesse, tentaria equilibrar melhor forma e conteúdo, talvez abrindo mão de alguns elementos que dificultam a visualização das áreas de distribuição das tartarugas.
Adoro o conceito de “casco” no layout, mas algumas regiões ficaram muito pequenas.
Mesmo em formato grande (24″ x 36″), é preciso chegar perto para ler os detalhes.
Testei escalas diferentes para cada tartaruga, mas isso atrapalhou a uniformidade do casco.
No fim, fiquei tão fascinado pela ideia de ter “hexágonos dentro de hexágonos” que acabei sacrificando um pouco a clareza.
Como você começou no mundo dos mapas?
Koelker: Acho que os mapas me conquistaram por unirem várias paixões que cultivo desde criança — desenhar, construir coisas, imaginar histórias, além de adorar história, geografia, conservação e ciência.
Os mapas combinam criatividade com utilidade prática, e gosto de pensar que posso criar algo que as pessoas apreciem tanto como arte, quanto como ferramenta de aprendizado.
Qual é o seu mapa favorito?
Koelker: É difícil escolher apenas um, mas destaco o The Ribbon Map of the Father of Waters, feito pela Coloney Fairchild & Co em 1866.
Ele tem apenas 2,75 polegadas de largura, porém quase 3,35 metros de comprimento, enrolado em uma caixinha para que turistas navegando o Rio Mississippi pudessem desenrolá-lo conforme subissem ou descessem o rio.
Em essência, ele “estica” o mapa do Mississippi ao longo de uma fita, de modo que o formato real do rio fica distorcido.
Mas, para quem está no barco, o que importa é saber a posição em relação ao curso d’água, e nessa proposta o mapa funciona muito bem.
Adoro tanto a engenhosidade quanto a “excentricidade” do conceito e, inclusive, já criei meus próprios “ribbon maps” inspirados nisso.
Quais são seus próximos projetos de mapeamento?
Koelker: Me mudei para o norte do estado de Nova York recentemente, então estou aproveitando para explorar a região por meio dos meus mapas.
No momento, trabalho em dois: um sobre a rede de canais históricos da região (todo mundo conhece o Canal Erie, mas há muitos outros que moldaram a história local) e outro sobre refúgios glaciais, locais onde certas espécies sobreviveram às eras do gelo.
Nesse segundo caso, há uma planta rara que resistiu por aqui e que pretendo ilustrar com um estilo aquarelado.
Ambos os projetos têm sido boas desculpas para viagens de pesquisa e novas descobertas.
Créditos
Artigo original publicado pela Esri, em 16 de janeiro de 2025.
Autor: Robby Deming (Behind the Map).
Título original: “Back to the Map: Map Turtles Mapped”.
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